Minha Mãezinha Querida!

23/04/2020
Instado por um amigo a publicar uma foto da minha mãe numa rede social, lembrei dela.

Minha mãe era uma gata chiquérrima! Quando jovem morava num daqueles casarões do centro de Niterói, onde vivia sua vida de patricinha urbana em bailes e trotes telefônicos.

Das habilidades adquiridas como normalista destacava-se o bordado e, dado que a cidade era sede de algumas rádios, onde se apresentavam os artistas famosos da época, era também boa cantora e pianista. Fanzoca de Silvio Caldas, chegou a tentar a carreira musical como caloura, mas logo desistiu.

Enquanto seus pais eram vivos desfrutou do bem bom de viver namorando e se divertindo. Contava que certa vez, se apaixonou por um rico filho de fazendeiro lá das bandas de Cantagalo, mas o namoro não vingou, e não se casou.

Creio que foi atropelada pelo desfazimento da sua boa vida familiar, resultado da morte dos seus pais, ou melhor, da sua mãe viúva e de seu padrasto, e também por ter sido vítima das diversas crises econômicas brasileiras, que se avolumaram a partir da ditadura Vargas.

Mais tarde, já funcionária pública casou-se com meu pai, um barnabé dado as boemias de músico baterista dos dancings cariocas. Tiveram dois filhos, mas muito cedo se separaram.

Dali em diante sua vida foi só perrengue, ao ponto de ter me colocado num internato, aos 6 anos de idade, no antigo SAM (que virou Febem, e onde hoje fica a Faetec, em Quintino), e no Preventório de Niterói. Lutou muito para criar e educar, a mim e a minha irmã, até o dia em que, repleta de sonhos e de felicidade, pode segurar a chance de, como parte do grupo de secretárias do ministro Mário Andreazza, se transferir para Brasília e mudar de vida.

Brasília foi o ápice da sua carreira, que no entanto não durou muito tempo. Devido ao clima, e a falta de adaptação do seu corpo, teve que retornar a terra natal, Niteroi, onde viria a falecer, ainda cheia de vida.

Minha mãe era uma dessas mulheres loucas maravilhosas, dona de uma energia capaz de tocar a qualquer um que se pusesse na sua frente. Tinha um riso de timbre grave que se fazia ouvir bem a distância. Dela herdei a doença, a neurose que tive de enfrentar deixando fluir a criatividade, e a capacidade de comunicação espontânea que ela me deixou, como sua marca registrada.

Além de muito orgulho tenho por ela uma grande dívida. Foi ela que, numa luta incansável, conseguiu para mim, meu primeiro emprego, me desviando dos perigosos caminhos da adolescência, que o bairro não cansava de oferecer.

Mas Deus do alto de Sua bondade me deu tempo de, ainda em vida, fechar o circulo do agradecimento, com meu ingresso na faculdade, e meu primeiro (pequeno) sucesso na vida de funcionário público, ambos acontecimentos assistidos por ela com emoção, naquele que seria o encerramento de sua obra na terra, ter um filho pronto para a vida.

E embora não me canse de agradecer, vou repetir aquilo que digo em pensamento, "Obrigado Dona Dulcilia por tudo que fez de certo e errado por mim, pois aprendi com ambos".

#tiozinhodabarbabranca #ByraDiOliveira #ByraLeite #Mãe 

Feliz Sem Idade - Neoguru Birya Sancho
Todos os direitos reservados 2017/21
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora